Depoimento da Mayra
Olá meu nome é Mayra, moro em Minas Gerais - Brasil, tenho 22 anos e dissociei-me há uma semana.
Minha história com as testemunhas de Jeová começou num Sábado de Novembro de 2006, por volta das dez da manhã com minha mãe aceitando um estudo bíblico, iniciado de imediato com a brochura "O que Deus requer de nós". Era dia de reunião e fomos convidadas a participar. Como morávamos longe do salão do reino o nosso instrutor levou-nos de carro. Eu fiquei apreensiva porque falavam que eram uma seita! Eu imaginei um lugar fechado com uma mesa comprida com forro preto, não sei porquê, mas chegando lá a recepção foi calorosa tudo diferente do que pensei. Fiquei encantada com o lugar e lembro-me do discurso proferido pelo viajante Valter Aro. A partir daí dediquei-me totalmente aos estudos, assistia a todas as reuniões, deixei de fazer amizades com "mundanos", saía no serviço de campo, tinha estudos bíblicos e tudo mais.
Minha mãe queria que cursasse a Faculdade mas decidi não o fazer para não atrapalhar as reuniões e, mesmo sabendo que os anciãos da congregação me apoiavam nesta decisão, minha mãe ficou muito triste. Em 2008 baptizei-me e logo depois comecei a procurar emprego. Esse período da minha vida foi muito “stressante” e quase me levou à depressão! Procurei empregos de meio tempo para não perder reuniões, tendo conseguido um emprego de telemarketing, seis horas por dia, achei perfeito! Conseguia chegar cedo em casa para preparar e assistir reuniões, sair no serviço de campo e dirigir estudos “bíblicos”, tudo isso me deixou muito feliz.
Mas, aos poucos no meu local de trabalho, os horários dos funcionários começaram a sofrer alterações todos os meses de 10 a 20 minutos, até que o meu horário foi alterando ao ponto de eu chegar a casa no horário das reuniões. Era uma correria, chegava cansada e preparava mal as reuniões, e o tempo foi passando começando a perder reuniões, o que me transmitia uma sensação de culpa. Devido a esta situação chorava muito, chegando a um ponto de desânimo, não tinha mais vontade de ir às reuniões e o zelo começou a diminuir. Os anciãos vinham visitar-me e eu não sabia como reagir!
A minha família continuou os estudos até aos dias de hoje mas com poucos progressos. Naquela época o meu pai exigia muito de mim, chamando à minha atenção o facto de perder reuniões, colocando a culpa nos meus vizinhos e nos meus amigos. Passei a encarar as reuniões como obrigação e me sentia mal por isso. Estava mal no trabalho, preocupada com as reuniões e no salão do reino porque não estava frequentando assiduamente, passando por uma situação de “stress” muito grande. Na empresa quando mudaram meu horário para mais tarde, fui encaminhada para um psicólogo que disse que eu estava com princípio de depressão. Nas sessões não sabia se devia falar de tudo o que me estava a acontecer, pelo que fiz duas sessões e não voltei mais.
Passado um tempo saí dessa empresa e fui para outra também de telemarketing por causa do horário na qual não se verificavam mudanças de horários. Deste modo, não tinha desculpas para faltar às reuniões, passando a ir de vez em quando e às vezes participava também no serviço de campo. No entanto, não tinha mais estudos bíblicos pelo que a cobrança foi ficando cada vez maior, ao ponto de passar a ficar inactiva por mais de um ano.
Para piorar a situação, em Janeiro de 2010 comecei a namorar um rapaz que não era Testemunha de Jeová. No começo meu pai e minha mãe apoiaram pois eles não estavam tão ligados na religião e isso se verifica até hoje. Deixei claro para ele que era Testemunha de Jeová e ele não se importou, perguntando até se tinha que se baptizar primeiro para namorar comigo, ao que eu lhe expliquei que o baptismo era coisa séria, tendo que dar alguns passos antes do baptismo. Também lhe expliquei que se decidisse fazer isso, deveria fazê-lo por ele mesmo e nunca por mim. Como era de esperar, fui repreendida mas comecei a ir regularmente às reuniões por causa dele porque ele passou a gostar muito das reuniões, principalmente para a reunião do discurso público e “A Sentinela”. A dada altura foi proferido um discurso falando sobre namoro com quem não é cristão e fizeram uma ilustração falando que as irmãs olham o mundano e acham um "gatinho", modo de exemplificar a beleza, mas as irmãs não vêem que os "gatinhos" têm garras e podem arranhar. Uma irmã fez um comentário infeliz coincidindo com uma das primeiras visitas do meu namorado ao salão "Quem é o gatinho? Cuidado com as garras dele!". Isso foi suficiente para ele deixar de gostar das reuniões e o estudo que ele foi praticamente obrigado a aceitar acabou. Ele passou a ir às reuniões por mim e não por ele! Diante dessa situação eu fiquei deprimida porque queria que ele estudasse e se baptizasse para nos casarmos no salão.
Pensei em terminar porque não achava certo continuar o namoro, mas ao mesmo tempo pensei que Jeová não ouvia as mais minhas orações e desobedeci a ordem de casar somente no senhor visto que ele não iria se tornar uma Testemunha de Jeová. Não conseguia mais orar e me sentia suja pelo simples facto de estar a namorar alguém que ainda não era Testemunha de Jeová.
Em conversa com meu namorado, falei como me sentia e ele me disse que me amava muito e não queria que me sentisse assim. Mais, que eu estava prejudicando a minha relação com Deus com esse apego à religião, para além do problema da minha depressão. Que ele já tinha pesquisado sobre outras religiões e concluiu que nenhuma estava certa, só que nunca tinha pesquisado sobre as Testemunhas de Jeová, mas que se pesquisasse com certeza acharia alguma coisa errada porque lá. Ele não sentia amor ao próximo nas pessoas, porque elas se afastavam de mim e me criticavam incentivando a terminar o namoro. Eu só conseguia justificar dizendo que eles estavam preocupados comigo e defendia a religião, achando que eu era a culpada e que se ele quisesse ele podia pesquisar sobre minha religião que ele não acharia nada de errado porque lá, pois era a única religião verdadeira.
Bem, ele fez a pesquisa no começo de Janeiro desse ano e me mostrou na hora mas eu não quis ler. Questionei se as informações estavam certas, se era confiável a fonte de onde ele pesquisou, etc. Comecei a ler e a continuar defendendo a religião, mas ele me disse para que eu simplesmente lesse com mente aberta sem tentar defender nenhuma das partes. Continuei a ler junto com ele as muitas páginas do estudo e à medida que lia ia ficando sem chão, me senti totalmente ingénua de nunca ter pesquisando antes de entrar, sendo que na minha primeira visita tinha ficado com medo de ser uma seita e nem me dei ao trabalho de procurar saber onde estava entrando.
Reparei que realmente lá dentro somos persuadidos de tal forma que ficamos praticamente cegos. Depois desse sentimento de tristeza senti-me aliviada, mas fiquei sem saber o que fazer, se contava ou não pois duas semanas depois tinha Assembleia, mas fui com um olhar crítico e depois não fui mais as reuniões. Nunca me iria sentir bem num lugar onde fui enganada!
Comecei a ter visitas de pastoreio e eu sempre falava que não estava indo às reuniões por desânimo, mas eles resolveram chamar-me para uma comissão judicativa porque já não sabiam o que fazer para eu voltar a frequentar as reuniões. Eles achavam que meu namorado estava-me proibindo, então tomei a decisão de me dissociar! Conversei com o meu namorado e ele apoiou-me, de seguida falei com minha mãe e expliquei-lhe os motivos. Na comissão judicativa informei que tinha tomado uma decisão relativamente à qual não voltaria atrás, de que não queria mais ser Testemunha de Jeová porque não acreditava que fosse a religião verdadeira. Não dei mais nenhum detalhe dos motivos e na semana seguinte elaborei a carta de dissociação e finalmente estou livre.
Na quarta-feira dia 4 de Julho passado deram o anúncio. Agora estou muito feliz tendo prazer nas coisas que faço e prestes a casar, com a perspectiva duma vida muito melhor e com um relacionamento com Jeová Deus que nunca tive antes, livre de mentira e medos.
Agradeço muito a Deus por ter colocado meu namorado na minha vida sem o qual eu ainda estaria lá.
Mayra Vasconcelos – Minas Gerais / Brasil – Agosto de 2012